À espera dos exames de sangue para detectar o Alzheimer
06/08/2024
Testes mais simples que possam identificar a doença antes do surgimento de sintomas foram um dos destaques da conferência internacional realizada na Filadélfia. O tema que mais mobilizou a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC 2024), realizada entre 28 de julho e 1 de agosto, na Filadélfia, foi o desenvolvimento de testes mais simples para detectar a doença, que hoje são caros, invasivos e pouco acessíveis. Cerca de 50% dos pacientes com demência não são diagnosticados com Alzheimer. Quase um em cada três com diagnóstico clínico não tem evidência das placas de proteínas que “asfixiam” os neurônios e os que apresentam declínio cognitivo leve sofrem com avaliações tardias.
Demência: exames de sangue que possam identificar a Doença de Alzheimer antes do surgimento de sintomas foram um dos destaques da conferência internacional realizada na Filadélfia
Alterio Felines para Pixabay
Validar exames de sangue que possam detectar a doença de forma confiável é o objetivo de todos os pesquisadores. Para se ter noção da revolução no campo do diagnóstico, um desses testes alcançou 90% de acurácia em identificar a enfermidade. A taxa de sucesso de neurologistas ficou em 73% e, entre os médicos de atenção primaria, o acerto foi de 63%.
Os mais promissores são os que identificam a proteína tau plasmática fosforilada no sítio 217 antes do surgimento dos sintomas: o p-tau 217 é um biomarcador específico que ainda prediz a possibilidade de placas amiloides no cérebro. Os modelos usados pelos cientistas sugerem que, em 2033, se os testes que estão sendo desenvolvidos forem usados, o tempo médio para iniciar um tratamento cairá de seis anos para 13 meses.
Também ganhou destaque a notícia de que a liraglutida, droga injetável que foi uma espécie de precursora do Ozempic, teve bons resultados contra o declínio cognitivo por Alzheimer em um ensaio clínico no Reino Unido, apesar de serem apenas 204 participantes. O remédio parece reduzir o encolhimento do cérebro nas áreas que controlam memória, aprendizagem, linguagem e capacidade de decisão. Faço aqui um brevíssimo resumo destacando alguns outros pontos da AAIC 2024:
Exposição a elementos tóxicos
O epidemiologista Sean Clouston, professor da Stony Brook University, apresentou trabalho impactante sobre o aumento da incidência de demência, antes dos 65 anos, de pessoas que trabalharam na área destruída por terroristas no World Trade Center, em 2001, provavelmente afetadas pelas neurotoxinas presentes nas toneladas de resíduos. Cerca de cinco mil indivíduos, todos com menos 60 anos e sem qualquer problema cognitivo, foram acompanhados por cinco anos, a maioria composta de voluntários, que trabalharam sem a proteção de máscaras – bombeiros não participaram do levantamento. Clouston citou indicadores relevantes de inflamação do hipocampo e atrofia cerebral num número expressivo deles.
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O risco da fumaça de incêndios
Estudo realizado na Califórnia, que acompanhou 1.2 milhão de pessoas durante dez anos, mostrou que a exposição à fumaça de incêndios aumenta significativamente o risco de demência, mais do que outros tipos de poluição atmosférica, como a provocada por indústrias e automóveis. Os incêndios florestais são comuns naquela região e dobraram nos últimos 20 anos. A fumaça é composta de uma mistura de partículas sólidas, líquidas e gases tóxicos que, aspirada, penetra profundamente nos pulmões. Uma forma de proteção é usar máscaras N95 quando o índice de qualidade do ar – que mede a concentração de poluentes e varia de zero a 200 – bater a marca de 100.
Visão, audição e demência
Iracema Leroi, professora do Trinity College e membro do Global Brain Health Institute, alertou para a falta de conhecimento, mesmo entre profissionais da saúde, sobre como a perda auditiva e de visão afeta pacientes com declínio cognitivo: “a incidência dessas condições leva a uma maior agitação, falta de orientação e comunicação. Pequenas intervenções podem melhorar a qualidade de vida das pessoas”. Aliás, déficit de visão sem tratamento (como o provocado pela catarata) e colesterol alto elevaram para 14 o número de fatores de risco modificáveis para demência. Os outros 12: baixa escolaridade, deficiência auditiva, pressão alta, tabagismo, obesidade, depressão, sedentarismo, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesão cerebral traumática, poluição do ar e isolamento social.
Ingestão de carne processada
Comer duas porções por semana de carne vermelha processada, como bacon, mortadela, salsicha ou equivalente, aumenta o risco de demência em 14%, se comparado com quem come menos de três porções por mês. Em compensação, trocar esse tipo de alimento por castanhas, feijões ou tofu diariamente diminui o risco de demência em 20%. Cada porção extra de carne processada estava associada a 1.6 ano a mais de envelhecimento cognitivo, afetando a linguagem e funções executivas do dia a dia.